A sede do partido Renamo na cidade da Beira, no populoso Bairro da Munhava, foi pequena para acolher a moldura humana que ali acorreu para tomar parte na cerimónia religiosa de despedida a Afonso Dhlakama, presidente da Renamo. Inúmeras pessoas apinharam-se naquela pequena delegação que, com um som improvisado, acolheu a cerimónia em que se ouviam choros e cânticos religiosos. O momento mais alto da cerimónia foi a intervenção do padre Machate, representante da Igreja Católica, que fez um elogio fúnebre bastante aplaudido.
O primeiro aplauso foi a pedido do padre Machate, quando, durante o seu discurso, pediu para que ninguém mais chorasse e que, naquele mesmo momento, devia-se aplaudir. “No lugar de chorarmos pelo nosso pai, o nosso grande homem que lutou bastante para a libertação, para a paz em Moçambique, pela democracia, vamos aplaudir em pé”, disse o padre Machate e acrescentou que só Deus sabe o trabalho que Dhlakama fez. “Muitos podem condená-lo, mas muitos também o louvam. Ninguém tem essa coragem de gastar a sua juventude numa mata, sem direito à família e a férias e sem poder andar como um homem livre. Ninguém aqui pode fazer isso”, disse.
Continuando, o padre Machate, estabelecendo uma comparação com Jesus Cristo, afirmou: “Temos este homem que teve esta experiência de acabar toda a sua juventude na mata, e nós aqui, por causa de uma coisa nobre: a democracia e a paz em Moçambique. Que Deus o abençoe e lhe dê o descanso eterno, perdoando todos os seus pecados. Nós somos finitos”. Presente na cerimónia, Ivone Soares, chefe da bancada parlamentar da Renamo e sobrinha de Afonso Dhlakama, falou banhada em lágrima, tendo dito que se sente órfã pela partida do seu presidente e seu tio. “Apelo aos moçambicanos para seguirem os passos de Afonso Dhlakama. Agora todos temos de ser Dhlakama”, disse Ivone Soares, no final da missa na Delegação Politica da Renamo. Solicitada para comentar sobre os passos subsequentes em relação ao processo de paz de que Afonso Dlhakama e Filipe Nyusi estavam a tratar, Ivone Soares respondeu que não sabe como o processo vai prosseguir. “Não sei como vai ser agora. O partido precisa de discutir esta questão em profundidade. Precisamos de achar um meio-termo”, afirmou, tendo acrescentado que, caso contrário, Moçambique pode vir a ter uma descentralização centralizada, que classificou como “um doce envenenado”.
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